Alegres e tristes
Manuel Alegre sempre foi uma surpresa para mim sobretudo pelo valor simbólico que ainda possui. É um símbolo da minha geração. Mas de quê? Ao certo não sei bem. Como é que a história o irá recordar? Quando penso nisto apenas vejo lutador e panfletário. É um lutador que teve sempre uma sala para falar. A sala já lá estava e ele aproveitou-a. Não a fez. Aproveitou-a para falar de sentimentos, de estados de espírito e dores de alma. Coisas eternas e sempre nossas.
Olhando para trás verifico que por esses dias o Reich do “Escuta Zé ninguém” marcou a minha maneira de pensar e ser. A “Praça da Canção” conduziu-me à sonolência. Como todos os agitadores desses tempos quando teve de exercer o poder no dia a dia fez asneiras atrás de asneiras. Enquanto agitador pelejou pela democracia e liberdade de expressão contra a ditadura e o pensamento controlado. Enquanto poder exerceu a ordem como é habitual. Pôs uns, tirou outros e ficou sem saber o que lá andava a fazer. Baralhou-se totalmente. Não gostou muito de ser contrariado nem de grandes discussões. Não conseguiu a unidade nem o diálogo mas isso não o preocupou muito. Claro que ficou mais que evidente que Alegre não conhece os caminhos para onde quer ir e quem for com ele perde-se.
Nunca lhe conheci um pensamento político claro e creio que não o tem. Tinha espaços para falar, tinha lideres a conduzir e que ditavam os caminhos e também a divisão de tarefas diárias. Quando se propôs candidato a Presidente com o seu mentor de sempre, Soares, verifiquei o que sempre foi evidente: é um político sem ideias para os tempos presentes e, claramente, um homem do passado. Entristeceu-me tudo aquilo. Surpreendeu-me a falta de lucidez, de capacidade de liderar e de qualidades politicas vitais. Vive de impulsos e ideias de outros. Acima de tudo parece estar sempre sentado entre duas cadeiras. Não está sentado em nenhuma e acaba por cair. E acaba por fazer cair os outros, deixá-los mal vistos, ter de pedir desculpa, sair pela porta do fundo a ameaçar que regressa.
Apesar de não esperar outra coisa tudo isto me entristeceu. Os símbolos com pés de barro não duram muito é um facto. A pouco e pouco estas gerações de símbolos vão desaparecendo e dando lugar à geração de homens comuns. Afinal é a ficção a ceder o espaço à realidade. Podem gritar que hoje já não há homens como antes, homens de verdade. Fico um pouco triste e ele continua Alegre. Embora eu preferisse ficar alegre e ele um símbolo com substância, não gosto de viver no engano. Prefiro estes tempos com estes homens de agora olhando para o futuro com uma insuportável angustia como sempre aconteceu ao longo da história do que as certezas dos amanhãs que cantam e de paraísos a quem lá chegar. Afinal são só trovas no vento que passa.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
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